Se você trabalha com um produto ou serviço internacional ou que esteja em processo de internacionalização, já deve ter ouvido falar sobre a necessidade da localização de produtos.
Afinal, o que é a localização?
De uma forma muito simples e resumida, podemos dizer que é uma forma de tradução que leva em conta diferenças linguísticas e culturais. É uma espécie de “makeover” cultural que torna um produto mais adequado e personalizado a um novo mercado. Um exemplo disso é o caso da rede de fast foods McDonald’s, que adotou o nome Méqui no Brasil, aproximando a marca da forma como o público local fala. Também existem exemplos de adaptações visuais, de conteúdo, de legislações, entre muitos outros casos.
Certo, mas você deve estar se perguntando qual a diferença entre localização e tradução. Muito se fala que, enquanto a localização teria foco nesse aspecto de adequação cultural, a tradução seria um processo mais literal. Na verdade, numa tradução, a pessoa responsável também vai se preocupar em como aquele conteúdo vai ser recebido.
No livro “As (in)fidelidades da tradução: servidões e autonomias do tradutor”, Francis Aubert vai falar que, quando há uma quebra na comunicação, cabe à pessoa tradutora buscar caminhos alternativos para superar essa barreira e transmitir uma mensagem de acordo com os objetivos daquela tradução. Então uma boa tradução sempre tem o cuidado de tratar dessas diferenças. Isso mostra que as linhas que dividem tradução e localização são um pouco mais borradas do que parece.
De onde vem a localização?
Olhar para o histórico da localização nos ajuda a entender um pouco mais esses limites. O termo Localização começou a ser usado pela área de desenvolvimento de software, no contexto de internalização desses produtos. Lá em 1995, no texto Developing International Software for Windows 95 and Windows NT, Nadine Kano definiu a localização simplesmente como o processo de desenvolver um software em um modelo em que o projeto e o código não se baseiam apenas em um idioma e uma localidade, planejando a arquitetura do código para aceitar diferentes formas de codificação de dados. Naquele contexto, localização era então uma parte de um processo de internacionalização, que envolvia a tradução de determinados elementos de um produto e a localização de outros.
Com o tempo 一 e possivelmente com a consolidação dos grandes produtos digitais e da especialização de desenvolvimento de produtos 一 a palavra localização passou a ser aplicada não apenas ao desenvolvimento do software em si, mas também a toda a estrutura que transita ao redor de um produto ou serviço. Além do software, essa adaptação envolve também a identidade verbal e visual, a estratégia de posicionamento e comunicação, adequação a legislações e regulações locais e tantos outros aspectos para entrada nesses novos mercados. Assim, quando falamos em internacionalização de uma marca ou produto/serviço oferecido por uma empresa, não podemos deixar de falar 一 e de pensar na estratégia 一 de localização.
Localização é estratégia
Por isso é tão importante definir essa estratégia ao desenvolver um produto ou serviço global. Precisamos conhecer o mercado que queremos conquistar, entender as nuances dessa cultura 一 como características de expressão linguística e visual, diferenças de formalidade e informalidades, costumes e regras sociais, regulações locais específicas, entre vários aspectos 一 para garantir que todos os aspectos desse produto, e não só sua interface textual, estejam adequados e dialoguem com o público para quem ele é destinado.
Em uma próxima publicação, vou contar para vocês como foi nosso processo aqui na Blip para construção de uma estratégia de Localização. Até lá!