É difícil encontrar alguma empresa que não tenha passado por um processo de transformação digital, seja com a criação de um website, a implantação de um software de gestão mais eficiente ou até mesmo com a utilização redes sociais para promover o atendimento e contato com seus Clientes. Esse novo mercado movido e impulsionado pela tecnologia exige uma constante utilização de dados e informações da empresa em plataformas digitais para que se tenha como resultado a entrega do melhor produto e/ou serviço possível.
Contudo, com esse uso massivo de novas ferramentas, uma preocupação – que se diga de passagem, já existia – começa a ganhar mais espaço e relevância: como garantir a segurança digital dos Clientes? Ou ainda, o que seria isso e por que é importante zelar por ela? Quais os riscos ao violar essa segurança? São exatamente essas perguntas que se busca responder com esse texto!
O que é segurança digital?
O conceito está relacionado com a proteção das informações e dados. Na prática, garantir a segurança digital significa adotar medidas que impeçam e/ou dificultem a violação de sistemas, plataformas e dados presentes neste mundo virtual.
O cuidado com a segurança digital busca proteger a empresa tanto de ataques e forças externas, quanto aqueles feitos pelos próprios colaboradores ao não seguir protocolos internos e ocasionalmente expor informações confidenciais da companhia.
Por que é tão importante zelar pela Segurança Digital dos Clientes?
Bom, conforme mencionado acima, a segurança sobre os dados de Clientes não é um tema particularmente novo. A necessidade de se atentar a essa questão já existe desde os tempos em que cada nova transação feita com o consumidor era anotada em bloco de notas – afinal, ninguém queria que informações sobre seus clientes estivessem disponíveis para o público, em especial para a concorrência.
Entretanto, esse tema ganhou uma nova perspectiva a partir da utilização de ferramentas virtuais na atividade empresarial, tratando-se da segurança digital propriamente dita.
Nesse sentido, diversas legislações surgiram para tentar melhor regular o tema e garantir segurança ao consumidor, muitas vezes considerado em posição de vulnerabilidade no momento da escolha.
Legislações para auxiliar o consumidor
Primeiro veio o Código de Defesa do Consumidor, o qual dentre várias disposições já afirmava sobre a necessidade de transparência com consumidor sobre a utilização de seus dados pessoais. Na sequência, o Marco Civil da Internet que já determinava uma série de direitos aos usuários ligados à proteção da privacidade e de dados pessoais, garantindo que seria ilegal a violação e exposição de tais informações na Internet.
O desrespeito por ambas as legislações já gerava nas empresas a responsabilidade de indenizar por perdas e danos todos os consumidores lesados por essas práticas. Contudo, apesar do alto rigor da norma, ainda se fazia necessário a criação da um regramento ainda mais específico, com regras mais claras e punições ainda mais severas.
E, por fim, mais recentemente, a Lei Geral de Proteção de Dados (“LGPD”), aplicável a vários nichos de negócio, definitivamente obrigou as empresas a zelar e observar regras básicas de segurança digital aos seus clientes, em especial no que diz respeito aos dados pessoais.
Por essa normativa, todas as empresas que de alguma forma realizam algum tratamento desses dados devem “adotar medidas de segurança, técnicas e administrativas aptas a proteger os dados pessoais de acessos não autorizados e de situações acidentais ou ilícitas de destruição, perda, alteração, comunicação ou qualquer forma de tratamento inadequado ou ilícito” (artigo 46 da LGPD).
A análise desta Lei é extensa, mas o que nos basta aqui é entender o legislador brasileiro optou por regulamentar o tema e impôs multas que chegam até a R$40.000.000,00 (quarenta milhões de reais) por infração às empresas que não respeitarem.
Analisando todos esses aspectos se torna claro que para que sua empresa esteja em compliance com a legislação, é imprescindível a adoção de medidas para garantir a segurança digital dos Clientes.
Segurança digital como estratégia de negócio
Por outro lado, promover tamanha proteção também pode ser considerada uma grande oportunidade de negócio para sua empresa. Quer ver?
Não há dúvida de que um dos critérios adotados pela maioria – para não dizer todos – dos consumidores atuais na escolha de onde comprar é a credibilidade da empresa, afinal, ninguém quer ter um pós-venda decepcionante ou correr o risco de ter algum problema com o produto.
Contudo, diante de um aumento exponencial dos casos de vazamento de dados pessoais (pesquisas realizadas pelo Massachusetts Institute of Technology, o “MIT”, indicam um aumento de 493% de vazamentos de dados pessoais no Brasil desde 2018), é possível perceber um crescimento e amadurecimento da preocupação dos consumidores sobre o tema, impactando diretamente em sua percepção sobre determinada empresa.
Conforme menciona o professor José Antonio Milagre, advogado especialista em Direito Digital, mestre e doutorando em Ciência da Informação pela UNESP essa posição faz sentido, já que “os dados pessoais podem ser usados indevidamente por criminosos para a aplicação de golpes, fraudes, pedidos de empréstimos e inúmeras outras atividades ilícitas”.
Assim, o que muitas empresas têm feito é investir em segurança da informação (uma pesquisa feita pela Auditoria PWC afirma que 57% das empresas devem aumentar seus investimentos em cibersegurança), com a obtenção de certificações ISO, projetos de adequação e conformidade com a legislação de proteção de dados, além de dar transparência sobre as medidas e processos internos adotados para dar a proteção adequada para a empresa.
Tudo isso tem um único objetivo: assegurar o Cliente sobre as boas práticas da empresa e dar segurança e conforto a ele na hora da compra.
O caso da Apple
A sensibilidade desse tema é tão importante que desde o início do ano, a Apple mudou por completo sua estratégia – indo na contramão do mercado – e passou a ter a segurança da informação como o centro de seu produto com o lançamento da atualização do iOS 14 de seu sistema operacional, com o recurso denominado pp Tracking Transparecy (ATT).
Essa ferramenta permite que o usuário tenha um controle maior sobre seus dados ao lançar alertas de que determinados aplicativos e sites estão coletando informações a seu respeito. Apesar de parecer simples, essa prática por si só é considerada disruptiva frente um mercado que cada vez mais tenta obter os dados dos usuários por práticas pouco transparentes.
Essa mudança de posicionamento também atingiu a App Store, o marketplace com os aplicativos disponíveis para iOS, uma vez que a empresa exigiu de seus parceiros maior transparência sobre suas práticas de privacidade.
Em comunicado oficial, a empresa ainda afirmou que:
“A App Store agora ajuda os usuários a entender melhor as práticas de privacidade de um aplicativo antes de baixá-lo em qualquer plataforma Apple. Na página de produto, os usuários podem aprender sobre alguns dos tipos de dados que o aplicativo pode coletar e se esses dados estão vinculados a eles ou usados para rastreá-los”.
Feitas todas essas considerações, qual conclusão podemos tirar de tudo isso? As empresas precisam se atentar e valorizar mais a segurança digital de seus clientes, não só por exigência da legislação, mas também porque essa tem sido uma prática e tendência cada vez mais valorizada no mercado!